A maioria dos jovens ou adolescentes acredita que seus
pais ou a sua família são um atraso na sua vida e só atrapalham. Refutam as
regras dos pais e até os odeiam a ponto de discutir e brigar. Quase sempre
descobrem a realidade depois de graves acontecimentos.
Na manhã de 31 de janeiro de 2012, Alissandra Iris, uma
cidadã comum do interior do Pará, saiu da quitinete que dividia o aluguel com a
amiga Luana, pretendendo encontrar uma oportunidade de demonstrar sua
capacidade no mercado de trabalho. Cinco dias antes havia passado pela marca
dos 19 anos de idade comemorando ao lado de várias pessoas que nunca tinha
visto, foi a primeira vez experimentou o efeito de entorpecentes.
Naquela manhã usava uma sandália de salto alto, um
vestido azul e óculos escuros, carregando no ombro esquerdo uma bolsa amarela
combinando com a cor da sandália. Pra chegar até o centro comercial precisaria
caminhar 1.500m e atravessaria várias Avenidas de trânsito desordenado. Os
passos firmes mostravam segurança na decisão de ir a luta. Há duas semanas
tinha deixado a casa dos pais por não concordar com as imposições relembradas
no dia-a-dia com recomendações exigentes demais para obedecer, preferira a
companhia de Luana que também saíra da casa dos pais um ano antes. Na companhia
da amiga tinha uma liberdade que nunca havia gozado antes, saía todas as
noites, bebia coisas que nem sabia o nome e ficava com homens numa freqüência
que nunca imaginara poder um dia, apesar de desejar. Vivia como queria viver
quando seus pais a proibiam de sair com as amigas e a impediam de freqüentar
festas. Naquela manhã de terça-feira estava decidida a conquistar um emprego
que pudesse bancar suas extravagâncias, mesmo recebendo boas gorjetas dos
homens com quem estava ficando.
Depois de entrar em várias lojas e ser rejeitada
conseguiu a oportunidade que desejava num super mercado. Começaria no dia
seguinte. Ao atravessar uma Avenida encontrou sua mãe com as mãos cheias de
sacolas e ignorou a saudação fingindo não ouvir nem vê-la.
No dia 21 de fevereiro Alissandra chegou na quitinete no
final na tarde e encontrou o lugar totalmente vazio, momentos depois o
proprietário do lugar surgiu na sua frente com um tom hostil cobrando o mês de
aluguel, só então ela descobriu que havia sido enganada por Luciana, a quem
tinha entregado R$250,00 para pagar o mês de moradia. Desorientada saiu para a
Rua depois de discutir com o dono da quitinete, caminhava com passos céleres
sem destino certo, todas as suas economias e suas coisas haviam sido levadas
pela a amiga, estava proibida de entrar na quitinete e não tinha um centavo na
bolsa para poder se alimentar. Bateu na porta de um dos seus ficantes que
apenas pediu para ela ir embora, tentou outras amigas de farra e outros homens
com quem dormira, mas não conseguiu sequer a atenção.
Às 19 horas e 30 minutos tentava alcançar o outro lado da
principal Avenida da cidade quando um motociclista que se exibia empinando a
sua moto surgiu de repente jogando o pneu dianteiro encima das costas de
Alissandra. O impacto foi fatal, ela caiu já desacordada sobre o asfalto, o
motoqueiro levantou a motocicleta e sem olhar para quem havia atingido fugiu do
local. Rapidamente a Avenida ficou interditada por populares que insistiam em
ver quem estava no chão.
Às 20 horas Alissandra deu entrada no hospital municipal
ainda desacordada. Depois de examinada pelos médicos foi colocada num quarto
para ser operada. Momentos antes da operação conseguiu abrir os olhos e
atordoada pode ver ao seu lado rostos que nos últimos dias havia odiado e
ignorado. Seus pais e seus dois irmãos se aproximaram com os olhos rasos
d’água.
Aquele foi o último dia que Alissandra odiou a sua
família.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário